sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Voltando a surtar

Um mendigo fazendo malabarismos com um martelo no meu caminho para o trabalho bem em cima da minha cabeça (e de quem mais passasse por ali)! Sim, coisa à toa para começar o dia, não? Um morador de rua bêbado ou drogado (ou ambos) arremessando a pelo menos quatro metros do chão um martelo ou qualquer outra coisa parecida e de igual nocividade. Assim começamos a quarta-feira! Bonjour, monsieur!


Ontem tentei fazer arroz pela primeira vez na vida! Resultado: um delicioso risoto! Na verdade saiu uma “papa” estranha, mas peculiarmente saborosa (eu soube temperar, ok?). É, necessito mais treino.


Não sei, mas acho tão estranho que mesmo sendo um cara moderadamente dotado de inteligência e relativamente a par do que acontece no mundo eu ainda sofra tanto com o meu cotidiano e me sinta tão inapto a lidar com a própria vida. Não estou aqui para bancar o modesto (e muito menos o fortão), portanto acho bastante irônico o fato de ser alguém “cabeça” ou talvez “antenado” e isso não me facilitar em nada a vida, nadinha!


É claro que conhecer um pouco mais das coisas nos poupa de muitos problemas. Por exemplo, imagino que por ter hábitos saudáveis como boa alimentação e cuidadosa higiene, sei que dificilmente eu desenvolveria infecções alimentares, giardíase, contaminações por DSTs, tétano ou outros males comumente associados à má higiene, pouca instrução e comportamentos de risco. Sei que por conhecer um pouco da maldade do homem eu não saio por aí com pertences caros e em horários e locais inapropriados (até porque não tenho pertences caros).


Mas e os outros problemas? Como hei de enfrentá-los? Por muito tempo pensei que racionalizar ao extremo certas situações pudesse me favorecer em algo. Tipo: “Você sabe que você está comendo mais porque está ansioso, sabe que o seu organismo não entenderá isso como você gostaria e, consequentemente, irá engordar. E, sobretudo, você sabe o que fazer para reverter essa situação e tomar as rédeas da sua vida, certo?”. Certo, mas, e daí? Isso resolveu o meu problema? Claro que não! Não sei nem dizer se houve algum “alívio” relativo. Outra estratégia igualmente frágil foi tentar “não pensar” nas situações. Ex.: “Estou no cheque especial, esse mês paguei somente o mínimo da fatura do meu cartão, o limite da conta está no talo e sei que se um duende verde não colocar um envelope embaixo da minha porta com várias notas de cem reais eu estarei numa situação bastante complicada (para não dizer outro nome)”. Daí acontecem duas coisas: a primeira é que eu NÃO consigo deixar de pensar nos problemas (sim, sou ansioso, inseguro, negativo, ‘autossabotador’ e às vezes até perco o sono!) e o outro fator é que, mesmo que eu fosse bem sucedido no primeiro (“não pensar”), estaria f*¨#+* de todo jeito já que “não pensar” não resolveria nada!


Já tentei destrinchar todas as emoções, dissecar cada pensamento de modo que eu pudesse, no meio desse processo todo, encontrar qualquer elemento que me provasse cabalmente que eu não precisava me preocupar com aquilo! E daí um monte de felipinhos cínicos e debochados começaram a rir na imensidão do meu desespero.


Outra tentativa frustrada foi praticar a sinceridade extremada a todo custo e doa a quem doer. E mal começou o meu dia e uma colega de trabalho que fazia tempo que não me via chegou sorridente: “E como está o Felipíssimo?”, “Felipéssimo!” – respondi imediatamente. Daí instalou-se um clima desagradável, eu não quis falar sobre os meus problemas (acho que apenas mulheres respondem que não estão bem querendo de fato engatar uma discussão a partir dali) e o dia seguiu tenso.


E vai terminar assim sem uma conclusão bonitinha, de modo abrupto? Vai!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Equação do dia



(Boa Vontade+Sinceridade)².(Esperança) = (Enrolação+Egoísmo).(Filhadaputice)³

(Disposição legítima . incondicional)
= (Confusão + Imaturidade - Sorte)


Eu me iludo = Eu me fodo


X = Otário¹²³


sábado, 22 de agosto de 2009

Diário de um Ordinário

E ele partiu. Com a mala repleta de sonhos e os bolsos cheios de boas intenções, ele partiu. Partiu o coração de sua família, partiu o sorriso do rosto dos amigos e se partiu em vários pedaços com vontades distintas. Ele quis partir, quis ficar, quis não querer, quis se partir ao meio e acabou partindo dali.

À medida que se adaptava ao novo papel e ensaiava as falas de seu mais novo personagem, punha em cheque tudo o que houvera vivido até então. Questionava seus valores, seus temores e até mesmo seus amores. Sentia a pele pinicar, o estômago embrulhar e sua voz embargar sempre que o telefone tocava. Então ele se debatia, sofria e cinicamente aplaudia sua doentia encenação!

Começara tudo: trabalho, estudos, distância, vazio, dor... E logo recomeçava: impotência, ausência, medo, dúvida, culpa... E assim lhe iam escapando os dias sem que ele pudesse evitar.

Estava prestes a apertar o play novamente e retomar o seu monólogo ensurdecido quando decidiu, por fim, pôr um fim àquela agonia e trocar o disco em questão. Por horas buscou em sua estante algum que lhe pudesse dar qualquer norte. Como não teve sorte e por não ser um cara propriamente forte, logo preferiu a morte! Aquelas narrativas que locupletavam suas prateleiras já não lhe diziam mais nada. Então, por alguns segundos parou e buscou nas histórias de terceiros e nas aventuras que viviam em seus quartos e nos quintos dos inferninhos algo de que se pudesse valer. E preferiu não ter pensado nisso!

Precisava de um roteiro seu, de uma peça que contasse a sua verdade! Então, num impactante ato de lirismo, arremessou longe livros, discos e filmes. E recolhendo-se num canto atrás da porta, começou baixinho e entre lágrimas a cantar uma música que jamais antes ouvira. Num dramático e musical crescendo, sentia sua voz se encorpar e ganhar uma corajosa entonação. Saiu então às ruas e manteve no timbre sua sincera melodia. Retribuía com sorrisos o deboche e o pasmo alheios. E, sozinho, seguia com seu cântico inopinado...

(Sábado, Fevereiro 03, 2007)